“Deus me tornou monge”

Swami Shriyukteshwar era diferente de muitos outros mestres. Ele era mais introvertido, menos inclinado a falar e, na maior parte do tempo, estava absorto na consciência de Deus, em profundo estado de shambhavi. Mesmo quando seus olhos estavam abertos, ele se fundia com o infinito sem qualquer consciência do mundo exterior e até mesmo seus discípulos mais próximos não ousavam conversar aberta e livremente com ele.

Swami Shriyukteshwar era um mestre realizado muito rigoroso. Um dia, um discípulo fez a ele uma pergunta com um toque de temor e devoção: “Swamiji, quando você atingiu o estado de nirvikalpa samadhi, embora sendo um chefe de família e seguindo os passos do grande guru Yogiraj Lahiri Baba, por que foi necessário se tornar um monge da ordem swami e renunciar à vida em família?” O grande guru Shriyukteshwar respondeu, com um sorriso: “Deus me fez um monge”. Essa resposta é muito simples e ao mesmo tempo revela uma grande verdade espiritual.

Swami Shriyukteshwar nasceu em 10 de maio de 1855, em Serampore, às margens do rio Ganges. Seu nome na infância era Priyanath, que significa “o senhor amoroso”. Desde jovem era muito desenvolvido espiritualmente e procurou um guia espiritual digno. Era extremamente inteligente e curioso. Sua dedicação insaciável em aprender cada vez mais, fez com que ele obtivesse êxito em suas provas na escola e cursasse a faculdade de medicina. Mas ele nunca estudou com a finalidade de obter um diploma ou ganhar dinheiro. Ele estudou ciência, principalmente a medicina, porque queria aprender mais sobre a verdade intrínseca por trás
da existência humana.

Após a morte de seu amado pai, Kshetranath, ele herdou seu negócio e suas terras, tornando-se um jovem rico. Sua mãe queria que ele se casasse e ele realizou seu desejo sem protestar. Assim, tornou-se um chefe de família, o que certamente foi a vontade de Deus. Ele sempre serviu e amou sua mãe, Kadambini Devi, uma mulher amorosa e consciente de Deus. Ainda assim, sua vida familiar, o conhecimento médico e os estudos na astronomia e astrologia não foram suficientes para satisfazê-lo.

Todos são potencialmente divinos, a realização em Deus é o direito de cada um de nós. Mais cedo ou mais tarde esse destino divino será cumprido em todos, ninguém escapa. O desejo de Priyanath pela autorrealização crescia em intensidade. Ele visitou diferentes santos e sábios, mas seu desejo não fora amenizado. Ele não conseguia acreditar que as histórias que havia lido e ouvido sobre a realização em Deus eram todas fruto da imaginação e irreais, ou que os grandes mestres espirituais só poderiam ser encontrados nos livros e não na vida real. Tais questões o
perturbavam constantemente.

Deus é onisciente e conhece o coração de um buscador sincero. Se um discípulo está realmente pronto, Ele o ajuda a encontrar seu mestre realizado. Priyanath conheceu o grande guru Yogiraj Shri Lahiri Mahasaya através de seus amigos e familiares. Assim que Priyanath descobriu onde poderia encontrar Lahiri Mahasaya, planejou tudo para ficar em sua companhia.

Ele foi a Benares e, assim que o viu pela primeira vez, teve a certeza de que Shri Lahiri Baba fora o mestre divino enviado para guiá-lo no seu caminho espiritual. Shri Lahiri Baba, seu satguru, também aceitou Priyanath como seu discípulo e, a partir daquele dia, Priyanath se dedicou sinceramente à meditação e à prática da Kriya, tornando-se o discípulo mais querido (priya). Shri Lahiri Baba o chamava de “Priya”, para mostrar sua afeição especial por ele.

Dia após dia ele progredia tanto no caminho espiritual como na meditação até que, por fim, ficou absorto num estado contínuo de felicidade divina, nirvikalpa samadhi. É dito na Bhagavad Gita:

manuṣyāṇāṁ sahasreṣu kaścid-yatati siddhaye |
yatatām-api siddhānāṁ kaścin-māṁ vetti tattvataḥ ||

(capítulo VII, verso 3)

Essa citação nos afirma que, entre milhares de pessoas, apenas alguns yogis conseguem manter o esforço necessário para a realização em Deus e, mesmo entre esses poucos, apenas o mais afortunado alcança o raro estado de perfeição e autorrealização.

Shri Lahiri Baba foi destinado por Deus a ser um mestre divino, um portador da prática da Kriya nos tempos modernos. Mesmo sendo um chefe de família, ele foi escolhido para mostrar que a vida espiritual não é um privilégio apenas para alguns poucos selecionados, ela é aberta a todos. Mas talvez Deus tivesse uma meta diferente para Priyanath, que passou pelos diferentes estágios ao se transformar em um chefe de família yogi, um mestre realizado e um monge, sempre imerso em Deus, além de um guia ideal a ser seguido por cada um de nós.

Extraído do livro: Flores Divinas, de Paramahamsa Prajnanananda

Um comentário

  1. Rogo à nosso mestre, alcançar ainda nesta vida, a mesma graça divina

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