Apego à Nossa Identidade
A fim de compreender melhor o ego, devemos saber com clareza o que ele realmente significa. O ego tem duas características: uma é a identidade e a outra, a atividade. Em primeiro lugar, vamos debater o aspecto do ego conhecido como identidade. Quando eu era uma criança pequena, me identifiquei com minha mãe e também com outras pessoas que eu conhecia. Porém, eu era muito mais dependente de minha mãe, porque minha identificação com ela era muito bem estabelecida.
Nossa identidade pode ser algo muito complexo. Ela permanece escondida por trás de muitas camadas de revestimentos. Vou ilustrar isso com uma história. Existia um homem que nunca revelava o seu passado, mas podia falar muitas línguas fluentemente. Mas, pelo fato de ele ter domínio perfeito de várias línguas, ninguém sabia dizer qual era a sua língua materna. Um dia, seus amigos discutiam sobre uma maneira de descobrir o seu segredo, quando, de repente, alguém teve esta ideia: “Ouvi dizer que em tempos de dificuldade a pessoa volta a falar a língua materna”. Então, na ocasião propícia, deu um forte golpe nas costas do homem, que imediatamente gritou em sua língua materna: “Oh, Deus!” Como bem ilustra a história, em tempos de dificuldade nossa real identidade é forçosamente revelada.
Descobrir a identidade constitui para todos os seres humanos uma grande crise. As pessoas tendem a afirmar: “Eu sou isso ou aquilo”, mas isso não é o que realmente são. Consequentemente, por afirmarem ser o que não são, elas impõem suas ideias aos outros tentando convencê-los a aceitar a maneira como veem as coisas e a si mesmas. Existem, na atualidade, alguns swamis que, por serem PhD. em alguma disciplina, escrevem seu nome como Dr. Swami… E assim por diante. Eu conheço um swami que era um ex-juiz, embora nunca tivesse revelado o fato a ninguém. Porém, os que conheciam o seu passado preferiam se referir a ele ainda como Juiz Swami. Esse é o impacto que nossa identidade tem sobre os outros.
Quando eu era jovem, um homem um pouco mais novo que eu aproximou-se de mim e perguntou: “Você é irmão de fulano de tal?” e mencionou o nome do meu irmão. “Você gostaria de inverter essa pergunta?”, eu disse. “Não é fulano de tal meu irmão? − você está me identificando por causa dele ou o está identificando por causa de mim?”
Vivemos com nossa identidade e temos um grande medo de perdê-la. Muitas vezes, as pessoas perguntam o que aconteceria se perdêssemos a nossa identidade, nossa individualidade. Mas, quando o rio se funde com o oceano, ele tem medo de perder sua individualidade? Sua identidade se dissolve e desaparece. Portanto, alguém pode se perguntar: “Se eu sou como um rio que se perde dentro do oceano, onde eu estou?” Acreditamos erroneamente que, se perdermos nossa individualidade, deixaremos de existir. Devido a essa crença, é comum pessoas que vão mais fundo na meditação desenvolverem algum medo de não voltar ao seu estado normal de consciência. Elas perguntam muitas vezes o que acontecerá consigo mesmas. No entanto, somos tão ingênuos, tão tolos! Esquecemos de quem nos trouxe a este mundo, quem nos trouxe a este caminho, quem está nos levando a uma meditação mais profunda. Nós nos esquecemos do Pai Divino, o Pai Todo-Poderoso que está respirando em nós e nos conduzindo a tal estado meditativo. Este é o Seu mundo e esta é a Sua vida. Deve-se lembrar: “Por amor, Ele me enviou aqui e, por amor, Ele um dia me levará de volta. Por que deveria eu temer?” Nosso medo se deve apenas a nosso equivocado senso de identidade.
Como você descreveria a sua própria identidade? Esta é uma questão fundamental, porque a forma como nos vemos, com nossos pensamentos e sentimentos sobre o que somos, torna-se catalisadora de todas as nossas ações e reações. E esta também é a base do ego. Conhecer nossa verdadeira identidade e essência, e o que a nossa individualidade é, vai nos ajudar porque a identidade e a individualidade são elementos importantes enquanto vivermos neste mundo. Muitas pessoas me diziam que, quando saísse, deveria sempre lembrar de levar comigo o meu passaporte ou meu documento de identidade com foto, tendo-os sempre em mãos quando me fossem pedidos. Não há nada de errado em carregar seu documento de identificação. Porém, poucas pessoas realmente percebem seu extremo apego à sua identidade relacionada à sua nacionalidade, língua, religião, cultura, comida e uma infinidade de lugares, pessoas ou coisas. É o nosso apego a essas coisas que gera todos os problemas e sofrimentos no mundo.
Muitas vezes, tenho notado que várias pessoas que comem comida vegetariana estão ligadas ao rótulo “vegetariano”. Elas não hesitam em dizer àqueles que têm uma alimentação não vegetariana que o que comem é ruim e, por isso, deveriam mudar seus hábitos alimentares. Mesmo entre os vegetarianos, existem alguns mais radicais, que restringem a alimentação a apenas certos tipos de alimentos. Certa vez, um monge hospedou-se na casa de alguns discípulos que eram médicos; portanto, bastante esclarecidos sobre nutrição. Um dia, enquanto eles estavam no trabalho, o monge examinou a geladeira e decidiu jogar fora toda a comida, porque, na sua opinião, não eram alimentos saudáveis. Mais tarde, naquela noite, depois de um longo dia no consultório, eles voltaram para casa, cansados e com fome, e, quando foram preparar a comida para eles e para o monge, perceberam, com grande espanto, que a geladeira estava bem limpa, mas vazia. Coincidentemente, em outra ocasião, aconteceu de eu ficar hospedado nessa mesma casa, mas não sabia o que tinha acontecido com o outro monge. Um dia antes de eles voltarem de uma longa jornada de trabalho, peguei o que tinha na geladeira e preparei uma refeição para eles. Todos ficaram surpresos e encantados quando viram que o jantar tinha sido preparado para eles, e disseram que eles é que tinham de cozinhar para mim. Eu lhes disse que gosto de cozinhar e isso não é nenhum problema. Então eles me relataram a história que se passou anteriormente. Disseram que, mesmo que o outro monge não tivesse gostado do tipo de alimento que eles comem, ele não tinha o direito de entrar na cozinha e jogar fora o alimento que estava na geladeira. Porém, é comum que novos convertidos tendam a ser um tanto fanáticos, julgadores e até agressivos, julgando que todos devem seguir o seu caminho − o único caminho certo.
Um dia, um homem me disse que não queria mais participar de festas e obrigações sociais. Lembrei-lhe que ele é casado, tem uma família e vive em sociedade, portanto deveria ir a esses eventos. Queixou-se de não gostar das comidas servidas em ocasiões sociais, por ser vegetariano. Falei para ele que certamente haveria algumas comidas que ele poderia comer, como frutas, salada, suco, água e doces. Disse-lhe também que não é necessário se desligar da vida mundana. Uma pessoa espiritualizada deve ser sempre sociável e amável com os outros. Além disso, em vez de criticar ou fugir das pessoas, tem-se a oportunidade de ser um exemplo positivo para elas.
Quando eu era jovem, participei de um programa em que alimentos não vegetarianos eram servidos. Notei que algumas das mulheres que preparavam as comidas ainda não tinham comido e ninguém estava lá para servi-las. Embora eu fosse completamente vegetariano, garanti a elas que me sentiria feliz em servir a comida. Elas ficaram bastantes surpresas e gratas por alguém, que era vegetariano, estar disposto a servir comida não vegetariana para elas. Minha simples oferta de ajuda, apesar de nossas preferências alimentares, deixou nelas uma boa impressão sobre os vegetarianos. Através do respeito às diferentes opiniões, crenças e costumes, as pessoas ficam mais dispostas a também respeitar as opiniões e os costumes diferentes dos seus.
O fanatismo nis torna cegos e arrogantes! O EU NÃO quer ter fim. Desejamos a eternidade. Grato pelo ensinamento.
Apesar da força identificadora do ego,, em vários momentos repito o seguinte pensamento: “NÃO SOU EU QUEM VIVE, É A VIDA DE DEUS QUE AQUI VIVE”. Mas confesso que o Ego é poderoso e me desafia o tempo todo a lembrar de minha verdadeira essência.