O Instrumento Interior Conhecido como Memória

A filosofia iogue afirma que o corpo tem quatro instrumentos internos e dez instrumentos externos. Os dez instrumentos externos são olhos, ouvidos, nariz, língua, boca, mãos, pés, órgãos genitais, ânus e pele. Os quatro instrumentos internos são classificados de uma forma muito sistemática e eficiente. Eles são a mente, o intelecto, o ego e a memória. De uma maneira geral, esses quatro instrumentos combinados são considerados como sendo a mente; porém, vamos trabalhar cada um separadamente.

O primeiro instrumento interno que debateremos será a memória. Muitas vezes, quando as pessoas leem livros, elas sublinham ou destacam certas passagens. Quando eu era ainda um menino no começo da minha vida escolar, eu nunca sublinhei qualquer passagem em meus livros escolares. No final do ano letivo, os meus livros estavam em perfeitas condições. Na verdade, eu os passava adiante para os alunos mais jovens que não tinham condições de comprar os livros escolares. Contudo, só porque os meus livros estavam limpos, não significa que eu não estudei. Sublinhamos ou destacamos frases em um livro porque poderíamos esquecer algum pensamento ou ideia importante, e, se a frase estiver destacada ou sublinhada, fica muito fácil encontrá-la. No entanto, eu não achei necessário destacar para reter informações.

Certa vez, após sua vinda para o Ocidente, Swami Vivekananda foi o convidado de um senhor que era professor de filosofia. Esse homem tinha uma biblioteca bastante extensa, repleta de livros grandes e grossos. O professor ficou bastante curioso quando viu Swami Vivekananda abrir os livros, folheá-los e, em seguida, devolvê-los à prateleira. “Swamiji, você está realmente lendo estes livros ou apenas olhando para as páginas? Eu vi você pegar alguns livros grandes e depois de poucas horas devolvê-los à estante. Acho difícil acreditar que alguém poderia tê-los lido tão rápido”, comentou.

“Gostaria de me testar?”, perguntou Swami Vivekananda.

Então, o interrogatório começou, pergunta após pergunta foi respondida por Swami Vivekananda de forma muito específica e precisa. Ele era capaz de dizer a partir de que capítulo e página as perguntas foram feitas. Pode-se legitimamente afirmar que Swami Vivekananda tinha uma memória fotográfica. Sem dúvida, o professor ficou encantado e surpreso ao presenciar tal feito. Pense por um momento, o quanto você se lembra do conteúdo de um livro que acabou de ler?

O que Determina as Coisas das quais nos Lembramos?

O que é isso que chamamos de memória e por que nos lembramos de umas coisas e nos esquecemos de outras? Vamos tomar alguns momentos para contemplar esse fenômeno fascinante. Existem algumas coisas que quase todo mundo se lembra, como o endereço de sua casa e o número do seu telefone. Outra coisa que costumamos lembrar é onde estacionamos o carro quando vamos a algum lugar. As pessoas também se lembram de seus familiares, dos amigos e das habilidades básicas para trabalhar durante todo o dia.

Por que nos lembramos dessas coisas e nos esquecemos de algo que lemos no dia anterior? Vou ilustrar isso com dois exemplos. Quando eu era criança, era muito fácil assimilar o que lia nos livros escolares. Meus amigos me diziam frequentemente que eu era afortunado por ter uma boa memória. Em seguida, eles acrescentavam que suas memórias não eram tão boas, porque não se lembravam de nada do que liam. Eu apenas ria e os lembrava de que se lembravam de centenas de músicas e filmes que tinham visto, músicas das quais eu não tinha qualquer lembrança. Alguns dos meus amigos também eram fanáticos por críquete e podiam facilmente recordar quantas corridas certos jogadores marcaram. Eles se lembravam de muitas coisas das quais eu não tinha lembrança. Deus deu a memória para cada um de nós. Como ela é utilizada é uma questão de preferência pessoal. Lembramos do que gostamos ou do que nos causou alguma impressão. Tudo que não consideramos prioridade vamos esquecer rapidamente.

Há alguns anos, tive que dar uma palestra sobre a previsão orçamentária da Índia. Foi uma conversa puramente intelectual e analítica. Meu ex-professor de Economia presidiu a palestra e todos os presentes eram intelectuais. Tinham me dado a tarefa de analisar o próximo orçamento para a Índia, previsão de mudanças e desafios que estavam por vir. Isso implicou um grande esforço de preparação e pesquisa da minha parte. Eu tinha quatro ou cinco páginas de notas retiradas de jornais e revistas, pois precisava de dados estatísticos para fundamentar o meu prognóstico.

No dia da palestra, tirei as notas cuidadosamente, dobrei-as e coloquei no bolso da minha calça. Então, prontamente, parti em minha bicicleta para proferir a palestra. Ao chegar ao destino, coloquei a mão no bolso para reaver minhas notas. Para meu espanto, descobri que elas deviam ter caído do meu bolso no caminho para a palestra. Você pode imaginar o meu estado. O que eu deveria fazer? Eu realmente não tinha escolha senão continuar sem elas, porque voltar e procurar onde tinham caído seria perda de tempo. Provavelmente, alguém as pegou ou talvez uma vaca faminta as viu como um lanche saboroso. Então, nesse momento, me virei para quem nunca me falha: calmamente, fechei os olhos e fiz uma oração para Deus e meu mestre, e entrei no auditório.

Eu me senti confiante de que qualquer informação que retive ainda estaria lá e tudo que não conseguisse me lembrar Deus iria me dizer. Com isso em mente comecei a palestra e quando a encerrei meu professor estava realmente encantado com o que eu havia dito. Além disso, pela graça de Deus e dos gurus, meus prognósticos eram mais precisos do que os feitos pelos outros. O que eu disse que aconteceria realmente aconteceu. No ano seguinte, o professor novamente me procurou para dar uma palestra a respeito da previsão orçamentária do próximo ano. Depois de testemunhar meus prognósticos anteriores se tornarem realidade, eu, educadamente, recusei.

Extraído do livro: Conheça a Sua Mente, de Paramahamsa Prajnanananda

Um comentário

  1. Há Pessoas que estão em contacto e em ligação com o Self em equilíbrio harmonia e tudo é visto como Self e não existe um atomo que não seja o Self…só grandes Mestres …

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