Nome e Forma

Vivemos no mundo onde todos os seres e todas as coisas materiais têm um nome e uma forma. Quando eu pronuncio “Gandhi”, uma imagem de Mahatma Gandhi vem à sua mente. Mas inúmeras pessoas na Índia também usam o nome “Gandhi”. Quando eu digo “tigre”, a forma de um tigre vem à sua mente, não a de um gato. Quando falamos de formas, há um consenso
natural sobre gênero, idade e beleza.

Portanto, nós nos identificamos e nos movemos por este mundo usando um nome e uma forma. A forma que nos foi dada quando viemos ao mundo muda constantemente e está associada a um gênero masculino ou feminino que faz com que nos identifiquemos com ele.

No mundo de hoje, ouvimos e lemos muito sobre a mudança de gênero. Mas você sabia que existe um relato de mudança de gênero no Mahabharata? Alguns dizem que essa escritura, uma das mais sagradas da Índia, é o maior épico de toda a humanidade. Sem dúvida ele também é um grande livro histórico para os indianos e é repleto de relatos maravilhosos sobre as fraquezas humanas e o incrível triunfo espiritual.

No Mahabharata, um rei sem herdeiros orou intensamente para que sua esposa desse à luz uma criança. Ele conduziu uma cerimônia do fogo especialmente com essa finalidade. Um dia suas orações foram respondidas e sua esposa anunciou que estava grávida. Com muita alegria, o rei pediu que um rishi (um sábio) fosse trazido até o palácio. Quando ele chegou, o rei perguntou:

“Ó sábio, diga-me, a criança será um menino ou uma menina?”

“Querido rei, sem dúvida muito em breve terás um menino.”

O rishi previu que o bebê seria um menino, mas sua previsão estava errada. O bebê era uma menina. Pelo fato de o rei ter uma fé inabalável nas palavras do rishi, mesmo sendo uma menina, ele disse a todos que era um menino. Enquanto crescia, a pequena garota foi instruída a dizer a todos que era menino. Mandaram-na vestir-se como um menino, a agir como menino e a nunca tirar suas roupas na frente de ninguém. Na juventude, ela foi treinada para ser como um guerreiro e participou de atividades reservadas apenas para homens.

No entanto, as coisas se complicaram quando ela cresceu. Na época, o casamento entre jovens era comum e esperado. Assim, vendo a si mesmo em apuros, o rei concordou que sua filha deveria ter uma noiva. Houve uma cerimônia de casamento e a princesa, disfarçada de príncipe, casou-se com outra garota.

Depois da cerimônia, os recém-casados recolheram-se para um quarto, aumentando o nível de ansiedade do noivo, que era a princesa. Ela se preocupou: “o que irá acontecer quando descobrirem que não sou um menino? Como meu pai sobreviverá a tamanha desgraça?”

O que fez o noivo recém-casado? Ele fugiu, desaparecendo do palácio, para evitar a iminente humilhação do seu próprio pai. Naquela noite, a jovem foi para a floresta, com a intenção de cometer suicídio.

Após andar por uma longa distância, sentindo-se desesperada e confusa, ela sentou-se numa pedra e começou a chorar. Mas algo milagroso aconteceu: um yaksha (anjo) apareceu. Esperando confortar a jovem, ele perguntou ternamente:

“Minha filha, por que você está tão aflita? Por favor, diga-me o que há de errado.”

A princesa narrou a história de sua farsa e o anjo foi solidário com a sua situação. Ele disse: “não lamente, pois sou capaz de resolver o seu problema. Eu tomarei a sua forma feminina e lhe darei a minha forma masculina. Assim, todos os seus problemas serão resolvidos e seu pai não será humilhado.”

Alegremente, a princesa concordou com a troca. Num piscar de olhos, “ela” tornou-se “ele”. O príncipe então retornou ao palácio e à sua esposa. Poderíamos dizer que essa história é sobre mudança de gênero. A jovem garota tornou-se um jovem rapaz e o anjo tornou-se uma mulher.

Mas sabe o que aconteceu com o yaksha, o anjo? O rei dos anjos veio até a floresta para procurá-lo, e ficou enfurecido ao ver que o anjo havia assumido uma forma feminina. Ele disse que o anjo permaneceria na forma feminina pelo mesmo tempo em que vivesse o príncipe.

Qual é o objetivo de contar essa história? Nós viemos para este mundo e ganhamos um nome e uma forma. Enquanto vivemos aqui, ficamos extremamente associados a esse nome e a essa forma e nós os amamos, veja: amamos nossas bochechas, nossos lábios, nosso nariz, nossos olhos e nossas sobrancelhas – amamos tudo. Amamos também o nosso gênero e, por causa disso, desenvolvemos ego e orgulho.

Extraído do livro: Entendendo o Ego, de Paramahamsa Prajnanananda

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