Autoconhecimento: A Porta Para Toda a Liberdade

O conhecimento é a porta para a liberdade; por isso devemos manter essa porta aberta em nossos corações. Sabemos disso, mas não podemos viver com conhecimento porque não praticamos. Temos que cultivar viveka (uma investigação discriminativa), vichara (investigação ou análise), oração e meditação. Para conseguir isso, a yoga deve se tornar um arsenal
de atitudes e valores nos quais essas práticas estão integradas. Quando temos uma vida de oração, meditação e discernimento e deliberamos com a atitude correta, uma carga é liberada de nossos corações e podemos viver em liberdade real.

Pessoas comuns vivem com ideias, imaginação, ego e expectativas equivocadas. Elas vivem sob um véu. Quando alguém cria uma máscara social, ela é afetada pelo mundo. Uma pessoa sem persona nunca é afetada.

Nossa perspectiva discriminativa começa com o corpo físico. Nós nos identificamos com o corpo
e nos aceitamos como homens, mulheres, crianças, jovens, velhos, doentes ou saudáveis. Mas, se olharmos profundamente, veremos que o corpo é apenas a casa em que moramos. Ele nasce, cresce, gradualmente envelhece, torna-se propenso a doenças e, finalmente, morre. Precisamos afirmar: “Eu sou a alma, não o corpo. Estou livre de todas as modificações da doença, da decadência e da morte”.

Quando dizemos “estou inquieto”, estamos conscientes de que nossa mente está inquieta. Quando dizemos: “sou ignorante”, acreditamos que nos falta conhecimento. Pensamos: “Sou ignorante quando não sei” e “tenho conhecimento quando sei”, mas esse é o jogo da
mente e do intelecto. Nós não somos isso. Nós somos a alma pura e perfeita. Mente e emoção levam a todas as imperfeições e sofrimentos.

Temos que desempenhar papéis diferentes em todas as fases da vida. Os diálogos e os enredos mudam, mas sempre trabalhamos com um enredo. Com a mudança de papéis, os desafios também mudam. Quando um papel é substituído por outro, um cabedal de problemas é deixado para trás. Problemas acumulados tornam-se o fogo que cria um desastre. Carregamos memórias da nossa infância que levam tristeza e sofrimento para a nossa velhice. As lembranças infelizes
da nossa juventude podem levar a problemas nos últimos estágios de nossas vidas. Um papel afeta o outro. Em última análise, nossas ações e diálogos imperfeitos significam que não desempenhamos bem nossos papéis, nem damos alegria aos outros ou encontramos alegria dentro de nós.

Queremos amar e viver em amor. Infelizmente, não nos damos conta de que, em nome do amor, cria-se muito apego. Não hesitamos em tentar controlar tudo naqueles que amamos. Quando o amor se torna controle, ele desaparece. Falsamente pensamos que, se não há controle, não há amor. Queremos controlar a criança porque tememos que ela cresça de maneira incorreta. Temos que libertar a criança com o toque do nosso amor.

Cantamos a oração védica purnam adah, a oração da plenitude, que diz que tudo está completo, o total vem da totalidade. Por exemplo, o fogo está completo. De uma chama, outra chama aparece; ambas são completas em si mesmas. Precisamos viver com o conhecimento interior da sensação de completude, com uma sensação de satisfação interior duradoura.

A tristeza deixa de existir quando entendemos a vida de uma maneira diferente e alcançamos o domínio sobre a mente. Criar um filho é um presente de Deus. Quando estamos com uma criança, consideramos tudo com uma mente renovada. Quando nossas mentes estão frescas, livres de expectativas e de impressões erradas do passado, percebemos com mais amor e contentamento. Aceitar e agir de acordo com uma situação significa que enfrentamos um fato
ou situação sem uma reação emocional. Isso nos liberta da miséria e do sofrimento.

Para mantermos nossa mente livre da tristeza, devemos também seguir os ensinamentos do Senhor contidos na Bhagavad Gita relativos aos alimentos que consumimos. A comida rajásica, incluindo os alimentos picantes, azedos, salgados, excessivamente quentes, fortes, duros, secos e ardentes causa tristeza, dor, pesar e doença (17:9). O Senhor também orienta que aquele que vive uma vida moderada e regulada, evitando o exagero ou a falta de comida, o sono desregrado ou o uso exacerbado dos sentidos, e que tem a atenção focada na alma em todos os momentos, estará livre da tristeza e do sofrimento (6:17).

Extraído do livro: Libertando-se do Sofrimento, de Paramahamsa Prajnanananda

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