Ego e Atividades
Como seres humanos, estamos envolvidos em atividades dia e noite. A maioria de nós associa essas atividades com nosso ego. Se fizermos algo de bom ou tivermos algum sucesso ou grande realização, o que acontece? Queremos anunciá-lo a todos. Você viu que ganhei um prêmio? Você viu que tenho um novo emprego? Você viu que comprei uma casa grande? Qualquer acontecimento ou tudo que temos se torna um gás hélio, que infla o nosso ego. Queremos nos exibir, queremos mostrar que somos isso ou aquilo. Porém, levamos tal coisa a um grau adiante. Não estamos satisfeitos em apenas anunciar nossa conquista. O que estamos realmente procurando são pessoas para dizer o quão grande somos por realizá-la. Então, se a outra pessoa não reagir da forma como esperávamos, determinamos que ele ou ela está com inveja de nós. Assim, em essência, quanto mais nos identificamos com as atividades que fazemos, mais queremos reconhecimento e apreço por fazê-las. Por exemplo, se cozinhamos, intimamente esperamos que alguém aprecie a comida e diga que ficou excelente. Se alguém apreciou o seu feito, tudo bem. Mas não deveríamos nos orgulhar de nossa comida e nos achar grandes cozinheiros. Sendo a nossa comida apreciada ou não, isso não deveria nos afetar. Contudo, o que acontece é que, se uma pessoa diz que não gostou de nossa comida, dizemos que ela é rude.
Há muitos anos, quando Gurudev Paramahamsa Hariharananda fez seu primeiro discurso público no Karar Ashram, ele recebeu tanto reconhecimentos quanto críticas. Ele vinha observando o silêncio durante anos, meditando e ficando em reclusão no ashram. Swami Satyananda Giri, o amigo de infância de Paramahamsa Yogananda e discípulo de Swami Shriyukteshwarji, era o presidente do ashram naquele tempo. Em um ano, logo antes de o programa anual da Celebração do Dia da Fundação começar, Swami Satyanandaji anunciou que um iogue muito avançado, que tinha alcançado estágios muito profundos de meditação, daria uma palestra. O ashram estava repleto de pessoas. Todos, incluindo Gurudev, estavam ansiosos para ouvir o misterioso iogue que Swami Satyanandaji havia anunciado. Porém, quando olharam em volta, viram apenas uma pessoa sentada ao lado de Swami Satyanandaji – era Gurudev – e ele estava observando silêncio. Então, para surpresa de todos, quando começou o programa, Swami Satyanandaji anunciou à multidão que o grande iogue que daria a palestra estava ao seu lado – pego de surpresa, Gurudev ficou chocado e se sentiu totalmente despreparado para proferir a palestra. No entanto, ele deu uma palestra que inspirou grandemente todos que estavam lá. Aconteceu também algo parecido em uma palestra subsequente em que o pai de Gurudev estava presente. Depois do programa, Swami Satyananda aproximou-se dele e fez grandes elogios a Gurudev. “Você já viu a conquista de seu filho? Um discurso espiritual como esse é muito raro”.
O pai de Gurudev respondeu graciosamente: “Obrigado, mas ele cometeu muitos erros em sua fala”. Então ele apontou um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez erros.
Swami Satyanandaji ficou surpreso ao ver um pai tão brilhante e elogiou-o, observando: “Esta é a sua grandeza. Obrigado por seu carinho e pela correção dos erros de seus filhos. Seus filhos são bem-sucedidos por causa de você”. E acrescentou que foi o treinamento dado a Gurudev pelo seu pai que o tornou tão bondoso e o transformou num grande iogue. Foi o pai de Gurudev quem inspirou essas grandes qualidades nele.
Agora, se alguém acha algum defeito em você, qual a sua resposta imediata? Muitas vezes, as pessoas ficam na defensiva, retaliando, brigando e fazendo acusações. Uma vez em um ashram houve uma discussão entre dois discípulos. Um disse: “Você é um touro!” E o outro: “Você é um burro!” Como a discussão começou a crescer, alguém sugeriu que fossem ao Guru para aconselhamento.
Quando os discípulos entraram na sala do Guru, inclinaram-se, mas ele permaneceu em silêncio. Depois de um momento de silêncio, o Guru disse que tinha preparado comida para eles e que eles se sentassem para comer. Eles perceberam que havia dois pratos de comida – um contendo comida de burro e o outro contendo comida de touro. O Guru olhou para eles e indicou que o burro e o touro deveriam sentar-se nos lugares indicados. Intrigados, os discípulos balançaram a cabeça e olharam um para o outro sem saber o que estava acontecendo. Calmamente o sábio Guru explicou: “Vocês chamaram um ao outro de burro e de touro; assim, eu lhes dei o alimento adequado para um burro e para um touro. Vocês deram esses nomes a vocês e, obviamente, têm que acreditar que existe alguma verdade no que foi dito. Senão, por que vocês vieram até mim?”